[Astronovas] O MISTÉRIO DOS "BRAÇOS FANTASMA"
astronovas at oal.ul.pt
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Fri May 4 15:36:32 WEST 2007
O MISTÉRIO DOS "BRAÇOS FANTASMA"
Utilizando dados obtidos pelos telescópios espaciais XMM-Newton, Chandra e
Spitzer, uma equipa de astrónomos obteve resultados que podem ser a solução para
um mistério que perdura há 45 anos. O enigma reside em dois braços espirais na
galáxia M106, também conhecida como NGC 4258.
Localizada na constelação Cães de Caça, a 23,5 milhões de anos-luz da Terra,a
M106 é uma galáxia espiral. Em imagens obtidas no óptico podem-se observar dois
braços espirais proeminentes com "origem" na parte central da galáxia. As
estrelas jovens e brilhantes existentes no interior destes braços fazem com que
o gás contido nestes brilhe.
No entanto, em observações no comprimento de onda dos raios-X, é possível
observar dois outros braços espirais que aparecem como dois "braços fantasmas"
entre os observados no óptico. As estruras observadas em raios-X são
constituidas na sua maioria por gás.
Para ver uma imagem da galáxia M106 e dos braços fantasma, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/galaxias/spiral.jpg
A imagem é formada pela composição de observações da M106 em diferentes
comprimentos de onda. Podemos ver na imagem quatro cores diferente: amarelo,
purpura, azul e vermelho. A estas cores correspondem, respectivamente, as
observações realizadas no óptico, rádio, raios-X e infravermelhos. Os braços
fantasma aparecem na imagem com cor purpura e azul.
Descobertos no princípio da década de 1960, a natureza destes braços fantasma
tem sido um enigma para os astrónomos.
Com o auxílio de dados obtidos pelos telescópios XMM-Newton, Chandra e Spitzer,
os astrónomos confirmaram agora que estes braços fantasma representam regiões de
gás que está a ser aquecido violentamente devido à acção de ondas de choque.
Tinha já sido sugerido que os braços fantasma fossem na realidade jactos de
partículas ejectadas por um buraco negro de grande massa residente no centro da
galáxia M106. No entanto, observações no rádio, realizadas pelo VLA, detectaram
um outro par de jactos originados no núcleo da M106. O facto de ser pouco
provável que o núcleo activo de uma galáxia possa possuir mais do que um par
destes jactos faz com que a teoria proposta tenha sido posta em causa.
Em 2001, uma equipa de investigadores reparou que os jactos possuem uma
inclinação de 30 graus em relação ao disco da galáxia. No entanto, a projecção
destes jactos no disco da galáxia coincide aproximadamente com os braços
fantasma.
Acreditando que este alinhamento não é fruto do acaso, a equipa propôs que à
medida que os jactos de partículas provenientes do núcleo se deslocam aquecem o
gás que se encontra na direcção do seu deslocamento, formando assim "bolhas" que
se vão expandido ao longo do tempo. Geram-se ondas de choque que, como a
inclinação dos jactos relativamente ao disco da galáxia é pequena, acabam por
aquecer o gás presente em grandes quantidades no disco. Atingem-se assim
temperatura de milhões de graus Celsius, o que resulta na emissão abundante de
raios-X por parte do gás.
Com o objectivo de testar esta ideia, uma equipa de astrónomos consultou o
arquivo de observações espectrais realizadas pelo XMM-Newton. Através destes
dados, a equipa foi capaz de determinar a temperatura do gás presente nos braços
fantasma e analisar como é que a radiação X emitida por este gás é absorvida
pelo material circundante.
Perante este cenário, uma das previsões realizadas foi a de que os braços
fantasma acabariam por ser afastados gradualmente do plano do disco da galáxia
por acção dos jactos. Os dados espectrais do XMM-Newton mostram que a radiação X
sofre uma maior absorção na direcção do braço que se encontra a Noroeste do que
na direcção do braço que se encontra a Sudeste. Os resultados sugerem que o
braço a Sudeste encontra-se parcialmente no lado mais próximo do disco da M106,
enquanto que o braço a Noroeste se encontra parcialmente no lado mais afastado.
Os cientistas notaram que as observações são consistentes com o cenário previsto
e, ao consultarem dados obtidos pelo Spitzer tiveram a confirmação. A "visão"
infravermelha do Spitzer mostra claramente sinais de que a radiação X
proveniente do braço a Noroeste é absorvida pelo gás quente e poeira presentes
no disco da galáxia. Além disso, a elevada resolução do telescópio espacial
Chandra permitiu à equipa obter indicações claras da existência de gás
comprimido pelas interacções com os dois jactos.
Além de lançar alguma "luz" sobre o mistério dos braços fantasma, as observações
permitiram também estimar a energia dos jactos e determinar qual a relação entre
estes e o buraco negro central da M106.
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